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11 de agosto de 2011


- Fiz esse texto para uma redação no colégio, e resolvi postar aqui....

Maria. Esplendorosa e misteriosa, Maria. E ainda há quem a chame de ‘’Maria, a mulher-macho’’. Quem a ver de longe, não conhece sua história e a julga. Quem a conhece julga mesmo conhecendo-a.
A moça de pele morena e cabelos encaracolados ainda guardavam um grande trauma de sua infância difícil – havia sido abusada sexualmente pelo vizinho. Isso explicara o motivo de tanta frieza.
Quando a viam passar, em sua moto e com seu filho – sim, ela era mãe solteira, na garupa, gritavam, sem nem um pouco de vergonha na cara: ‘’ olha a negrinha, não tem nada na vida e ainda tem pose de arrogante’’. Mas Maria já não ligara com comentários maldosos. Fazia muito tempo que ela ignorava o preconceito.
Não era arrogante, a pobre moça. Era, digamos que, ‘’defensora de sua própria alma’’. Como já sofrerá bastante nessa vida e já havia engolido mais sapos que qualquer outra coisa, até chegar onde estava hoje, ela não acreditava mais na capacidade humana de amar ao próximo de graça. Não conseguia ver bondade nos outros. Em outras palavras, ela achava que todos tinham segundas intenções. Segundas más intenções.
As vezes, Maria, cansada da rotina, pesada, cheia de preocupações, cheia de deveres, sentava, colocava seus fones de ouvidos e viajava pelos pensamentos. Lembrara da música de Milton Nascimento, que se referia a uma Maria: ‘’ Maria, Maria. É o som, é a cor, é o suor. É a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar. E não vive apenas aguenta.’’. Muitas vezes imaginava uma vida diferente. Sem tantos desafios. Mas chegara a conclusão que não mudaria nada. Que cada obstáculo só a fez crescer.
Hoje em dia, apenas duas coisas a motivavam em levantar-se da cama todos os dias: seu filho e sua profissão. Joaquim, menino bom, que foi criado com o suor de cada dia de sua mãe. O garoto sabia o quanto sua mãe era batalhadora e dizia para ela, todos os dias o quão orgulhoso ele era por ser seu filho e que quando crescesse, gostaria de ter ao menos metade da fortaleza que sua mãe possui.
Também não era forte, a pobre moça. Santo Deus, muito pelo contrário. Era frágil como vidro. Exatamente assim: Se cair quebra. Se quebrar, corta os outros. Tinha olhos secos e sofridos, mas que ainda brilhavam e tinham esperança. Fé. Ela também tinha muita fé.
Outra coisa que era preciosa na vida de Maria era sua profissão. Jornalista, era. Não trabalhava apenas pelo dinheiro – apesar de ser necessário. Trabalhava por amor aquilo que fazia. Sempre se identificou com aquele colunista do jornal que lia escondido de seu padrasto na infância. Imaginava que um dia estaria ela, escrevendo do outro lado do papel e as pessoas se identificariam com ela. Sonho realizado, Maria. Ou quase realizado. Ainda pretendia publicar um livro. Escrevera de vez em quando em um caderno velho. Tinha muito talento, a moça. Apesar de não achar. Acabava amassando as folhas e jogando fora o que seria uma grande obra. Ela pretendia contar, ironicamente, a história de uma moça que batalhou desde pequena para conseguir ser alguém na vida e que tinha um filho, no quão o ensinava a ser um homem do bem, diferente de todos os que cruzaram seu caminho. Não revelara de onde veio sua inspiração – apesar de óbvia.
Maria não contava para ninguém sua história de vida. Desprezava as pessoas que sentiam pena das outras. Preferia que todos a achassem fria e arrogante. Preferia o ódio e todos os olhos tortos de toda aquela gente, do que a compaixão forçada delas.
Havia completado oito anos que Maria não saia com homem nenhum – o pai de Joaquim foi o último, e depois da decepção que sofrera com esse homem – abandonara grávida, disse para si mesma, que o único homem merecedor de algum sofrimento seu seria seu filho e que este ela amaria e até morreria.
Mas não se enganem como Maria não. Além de ser mãe, jornalista, trabalhadora, escritora, dona-de-casa, motoqueira e tudo mais que quisesse ser na vida, ela era Mulher. Pode não parecer, mas era bastante vaidosa essa indecifrável moça. Com seus incríveis e hipnóticos olhos verdes, ela conseguia despertar interesse nos homens, onde quer que passe. Mas insistia em recusar todas as formas de aproximação. Fazia muito tempo que era sozinha, e desacostumara a ser dominada por alguém. Não queria mais um homem na sua vida. Controlando-a, exigindo explicações, bagunçando sua casa, entre outras coisas de vida a dois. Ela não era mais mulher disso. Não precisava mais de um Homem.
Todo amor que existia dentro dela, dividia-se entre si mesma e seu filho. Nada mais, ninguém mais, merecia algum tipo de sentimento seu.
Não pensem que a moça é infeliz. Ela até esquecera o que essa palavra significava desde que viu seu filho pela primeira vez. Havia sumido aquela angustia que cultivara pelo seu trauma.
Há oito anos, Maria colocou um sorriso no rosto e não o tirou mais. Tem quem diga que o sorriso era apenas um disfarce, para esconder a tristeza que havia dentro de si. Desminto. Ela não era mulher de fingir. Nem tristeza, nem nada.
Ela era feliz sim. Mesmo aos trancos. Ela era feliz porque não dependia de ninguém para isso. Porque até a respeito disso, ela era uma Mulher independente. Ela tinha seu amor próprio, que era muito grande e muito forte. Isso que lhe dava coragem para seguir em mais um dia de caminhada, enfrentando o mundo, defendendo seus direitos, calando a boca das pessoas, lutando por justiça, pelo que é seu, e sem tirar o sorriso do rosto. Grande Mulher, essa Maria, que de ‘’macho’’ não tinha nada!!!

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11 de agosto de 2011


- Fiz esse texto para uma redação no colégio, e resolvi postar aqui....

Maria. Esplendorosa e misteriosa, Maria. E ainda há quem a chame de ‘’Maria, a mulher-macho’’. Quem a ver de longe, não conhece sua história e a julga. Quem a conhece julga mesmo conhecendo-a.
A moça de pele morena e cabelos encaracolados ainda guardavam um grande trauma de sua infância difícil – havia sido abusada sexualmente pelo vizinho. Isso explicara o motivo de tanta frieza.
Quando a viam passar, em sua moto e com seu filho – sim, ela era mãe solteira, na garupa, gritavam, sem nem um pouco de vergonha na cara: ‘’ olha a negrinha, não tem nada na vida e ainda tem pose de arrogante’’. Mas Maria já não ligara com comentários maldosos. Fazia muito tempo que ela ignorava o preconceito.
Não era arrogante, a pobre moça. Era, digamos que, ‘’defensora de sua própria alma’’. Como já sofrerá bastante nessa vida e já havia engolido mais sapos que qualquer outra coisa, até chegar onde estava hoje, ela não acreditava mais na capacidade humana de amar ao próximo de graça. Não conseguia ver bondade nos outros. Em outras palavras, ela achava que todos tinham segundas intenções. Segundas más intenções.
As vezes, Maria, cansada da rotina, pesada, cheia de preocupações, cheia de deveres, sentava, colocava seus fones de ouvidos e viajava pelos pensamentos. Lembrara da música de Milton Nascimento, que se referia a uma Maria: ‘’ Maria, Maria. É o som, é a cor, é o suor. É a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar. E não vive apenas aguenta.’’. Muitas vezes imaginava uma vida diferente. Sem tantos desafios. Mas chegara a conclusão que não mudaria nada. Que cada obstáculo só a fez crescer.
Hoje em dia, apenas duas coisas a motivavam em levantar-se da cama todos os dias: seu filho e sua profissão. Joaquim, menino bom, que foi criado com o suor de cada dia de sua mãe. O garoto sabia o quanto sua mãe era batalhadora e dizia para ela, todos os dias o quão orgulhoso ele era por ser seu filho e que quando crescesse, gostaria de ter ao menos metade da fortaleza que sua mãe possui.
Também não era forte, a pobre moça. Santo Deus, muito pelo contrário. Era frágil como vidro. Exatamente assim: Se cair quebra. Se quebrar, corta os outros. Tinha olhos secos e sofridos, mas que ainda brilhavam e tinham esperança. Fé. Ela também tinha muita fé.
Outra coisa que era preciosa na vida de Maria era sua profissão. Jornalista, era. Não trabalhava apenas pelo dinheiro – apesar de ser necessário. Trabalhava por amor aquilo que fazia. Sempre se identificou com aquele colunista do jornal que lia escondido de seu padrasto na infância. Imaginava que um dia estaria ela, escrevendo do outro lado do papel e as pessoas se identificariam com ela. Sonho realizado, Maria. Ou quase realizado. Ainda pretendia publicar um livro. Escrevera de vez em quando em um caderno velho. Tinha muito talento, a moça. Apesar de não achar. Acabava amassando as folhas e jogando fora o que seria uma grande obra. Ela pretendia contar, ironicamente, a história de uma moça que batalhou desde pequena para conseguir ser alguém na vida e que tinha um filho, no quão o ensinava a ser um homem do bem, diferente de todos os que cruzaram seu caminho. Não revelara de onde veio sua inspiração – apesar de óbvia.
Maria não contava para ninguém sua história de vida. Desprezava as pessoas que sentiam pena das outras. Preferia que todos a achassem fria e arrogante. Preferia o ódio e todos os olhos tortos de toda aquela gente, do que a compaixão forçada delas.
Havia completado oito anos que Maria não saia com homem nenhum – o pai de Joaquim foi o último, e depois da decepção que sofrera com esse homem – abandonara grávida, disse para si mesma, que o único homem merecedor de algum sofrimento seu seria seu filho e que este ela amaria e até morreria.
Mas não se enganem como Maria não. Além de ser mãe, jornalista, trabalhadora, escritora, dona-de-casa, motoqueira e tudo mais que quisesse ser na vida, ela era Mulher. Pode não parecer, mas era bastante vaidosa essa indecifrável moça. Com seus incríveis e hipnóticos olhos verdes, ela conseguia despertar interesse nos homens, onde quer que passe. Mas insistia em recusar todas as formas de aproximação. Fazia muito tempo que era sozinha, e desacostumara a ser dominada por alguém. Não queria mais um homem na sua vida. Controlando-a, exigindo explicações, bagunçando sua casa, entre outras coisas de vida a dois. Ela não era mais mulher disso. Não precisava mais de um Homem.
Todo amor que existia dentro dela, dividia-se entre si mesma e seu filho. Nada mais, ninguém mais, merecia algum tipo de sentimento seu.
Não pensem que a moça é infeliz. Ela até esquecera o que essa palavra significava desde que viu seu filho pela primeira vez. Havia sumido aquela angustia que cultivara pelo seu trauma.
Há oito anos, Maria colocou um sorriso no rosto e não o tirou mais. Tem quem diga que o sorriso era apenas um disfarce, para esconder a tristeza que havia dentro de si. Desminto. Ela não era mulher de fingir. Nem tristeza, nem nada.
Ela era feliz sim. Mesmo aos trancos. Ela era feliz porque não dependia de ninguém para isso. Porque até a respeito disso, ela era uma Mulher independente. Ela tinha seu amor próprio, que era muito grande e muito forte. Isso que lhe dava coragem para seguir em mais um dia de caminhada, enfrentando o mundo, defendendo seus direitos, calando a boca das pessoas, lutando por justiça, pelo que é seu, e sem tirar o sorriso do rosto. Grande Mulher, essa Maria, que de ‘’macho’’ não tinha nada!!!

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